Colunistas
A música e o agronegócio: uma conexão entre cultura e produção
O agronegócio é uma das forças motrizes da economia global, especialmente em países como o Brasil, onde representa uma parcela significativa do PIB e emprega milhões de pessoas. Por outro lado, a música, enquanto expressão cultural, é uma linguagem universal que conecta comunidades e reflete identidades. À primeira vista, esses dois universos podem parecer distantes. No entanto, um olhar mais atento revela uma relação rica e simbiótica entre a música e o agronegócio.
MÚSICA COMO REFLEXO DA VIDA NO CAMPO
A música há muito tempo desempenha um papel importante na vida rural. Gêneros como a música sertaneja, o country e o folk emergiram como vozes das comunidades agrícolas, retratando o cotidiano no campo, suas lutas e celebrações. No Brasil, clássicos sertanejos cantam sobre as plantações, o trabalho árduo, a relação com a terra e até mesmo a saudade de casa. “Menino da Porteira” e “Chalana” são exemplos que eternizam o vínculo emocional do homem com o ambiente rural.
Além disso, a música serve como meio de preservação e transmissão da cultura local. Nas festas de colheita e nas celebrações religiosas rurais, ela desempenha um papel central, unindo as comunidades e proporcionando momentos de descontração e união.
O AGRONEGÓCIO COMO PATROCINADOR DA MÚSICA
Por outro lado, o agronegócio, com sua relevância econômica, tem se tornado um importante apoiador da música. Grandes festivais sertanejos e rodeios, como a Festa do Peão de Barretos, recebem patrocínio de empresas do setor agrícola, que reconhecem a música como uma ferramenta poderosa de engajamento e comunicação com o público rural e urbano.
Esses eventos também são vitrines para artistas locais e impulsionam o turismo e a economia regional. Ao patrocinar shows e festivais, o agronegócio contribui para a preservação e promoção da música, enquanto fortalece sua conexão com as raízes culturais do público.
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO: UM ELO CONTEMPORÂNEO
A relação entre música e agronegócio também tem ganhado novos contornos com a tecnologia. Hoje, músicos independentes que vivem no campo utilizam plataformas digitais para divulgar suas criações, muitas vezes com temáticas ligadas à vida rural. Paralelamente, a música aparece em campanhas publicitárias do agronegócio, ajudando a criar narrativas emocionais que aproximam consumidores e produtores.
Além disso, a música tem sido usada como ferramenta educacional no agronegócio. Iniciativas que ensinam boas práticas agrícolas para crianças e comunidades rurais frequentemente utilizam canções para transmitir mensagens de maneira mais acessível e memorável.
CULTURA E ECONOMIA: UM CICLO DE VALOR
A relação entre a música e o agronegócio é um exemplo de como cultura e economia podem se fortalecer mutuamente. Enquanto a música dá voz às experiências e aspirações das comunidades agrícolas, o agronegócio, em contrapartida, investe e preserva essa expressão cultural.
No fim, tanto a música quanto o agronegócio são essenciais para a identidade de muitas nações, representando, cada um a seu modo, raízes que sustentam e conectam sociedades. Essa simbiose não só celebra a tradição, mas também aponta para um futuro em que cultura e produção caminhem lado a lado. Parte superior do formulário
Dr. Caius Godoy, Advogado e Presidente da Comissão de Agronegócios e Assuntos Agrários da OAB Jaguariúna, Direito de Família e Sucessões e Direito Religioso.
e-mail: caius.godoy@adv.oabsp.org.br
Colunistas
É hora de mudar: a injustiça do regulamento do Campeonato Paulista

O Campeonato Paulista, um dos torneios mais tradicionais e apaixonantes do futebol brasileiro, há anos vem sendo palco de uma discussão que, para muitos, já deveria ter sido resolvida: a forma de classificação para as fases finais da competição. O atual regulamento, adotado há alguns anos e aprovado pelos dirigentes dos clubes, prevê que os dois primeiros colocados de cada um dos oito grupos se classifiquem para a próxima fase, independentemente da pontuação geral. Esse sistema, no entanto, tem gerado distorções gritantes, prejudicando times com campanhas mais consistentes e premiando outros com desempenhos inferiores. É hora de questionar: até quando vamos aceitar essa injustiça?
Este ano, mais uma vez, o regulamento mostrou suas falhas. A Ponte Preta, com 22 pontos, ficou de fora da fase seguinte, enquanto o Mirassol, com apenas 16 pontos, garantiu sua classificação. Para quem acompanha o futebol, é difícil explicar como um time que somou quase 30% a mais de pontos que outro pode ser eliminado. A situação é ainda mais absurda quando lembramos que, em 2020, a própria Ponte Preta foi beneficiada por esse mesmo sistema, classificando-se com 13 pontos, enquanto o Guarani, seu maior rival, ficou de fora com 16. Ou seja, o regulamento é tão falho que, em anos diferentes, prejudica e beneficia os mesmos times, sem qualquer critério esportivo consistente.
É importante deixar claro que a crítica não é pontual, nem direcionada a um clube específico. A questão é estrutural. Um campeonato que se pretende sério e competitivo não pode permitir que times com campanhas inferiores avancem às custas de outros que demonstraram maior regularidade ao longo da competição. Em qualquer liga europeia, por exemplo, a classificação é decidida pela pontuação geral, justamente para evitar esse tipo de distorção. Imagine explicar para um dirigente da Premier League ou da La Liga que um time com 22 pontos ficou de fora, enquanto outro com 16 avançou. Seria motivo de piada.
A Federação Paulista de Futebol (FPF) precisa acordar para essa realidade. O atual regulamento desrespeita o esforço dos clubes, a inteligência dos torcedores e a própria essência do esporte, que é a meritocracia. Não faz sentido manter um sistema que, em vez de premiar os melhores, cria situações aleatórias e injustas. É urgente que a FPF revise esse modelo e adote um critério mais justo, como a classificação baseada na pontuação geral, que reflita verdadeiramente o desempenho dos times ao longo do campeonato.
Além disso, é fundamental que os dirigentes dos clubes assumam sua responsabilidade nesse processo. Eles são os primeiros a aprovar esse regulamento e, portanto, têm o poder de pressionar por mudanças. É hora de colocar o interesse do futebol paulista acima de conveniências políticas ou de curto prazo. Um campeonato mais justo e competitivo beneficia a todos: clubes, torcedores e, claro, a própria FPF, que veria sua credibilidade fortalecida.
O Campeonato Paulista é um patrimônio do futebol brasileiro. Sua história, sua tradição e sua paixão merecem um regulamento à altura. Que 2026 não seja mais um ano de injustiças e distorções. Que seja, finalmente, o ano da mudança. O futebol paulista não pode mais esperar.
Texto: Edmilson Alves
Colunistas
A nova regra do futebol promete agilidade em jogo, mas e os demais tempos perdidos?

Neste sábado, 1º de março, a International Football Association Board (Ifab) anunciou uma mudança significativa nas regras do futebol, que promete impactar diretamente a dinâmica das partidas. A partir do meio deste ano, os goleiros terão apenas oito segundos para recolocar a bola em jogo após pegá-la com as mãos. Caso ultrapassem esse tempo, a equipe será punida com a concessão de um escanteio ao adversário. Além disso, o árbitro terá a responsabilidade de avisar o goleiro quando faltarem cinco segundos para o limite. A mudança visa coibir a chamada “cera”, prática que consiste em atrasar o jogo para garantir vantagens táticas.
Até então, a regra vigente permite que o goleiro fique com a bola por seis segundos, sob pena de tiro livre direto para o adversário. A ampliação do tempo para oito segundos pode parecer um alívio, mas, na prática, a punição com escanteio é mais severa, já que essa cobrança aumenta as chances de gol. A Ifab demonstra, com essa alteração, uma preocupação em tornar o jogo mais ágil e aproveitar melhor os 90 minutos de partida.
Na minha opinião, a mudança é válida e reflete a necessidade de modernizar o futebol, tornando-o mais dinâmico e condizente com as demandas do esporte no século XXI. O futebol é um jogo que evolui constantemente, e a tecnologia tem sido uma aliada importante nesse processo. Apesar de a nova regra não envolver diretamente questões tecnológicas, ela reforça a ideia de que o tempo de jogo deve ser aproveitado de forma eficiente. A redução da “cera” dos goleiros pode, de fato, acelerar o ritmo das partidas e tornar o espetáculo mais atraente para os torcedores.
No entanto, é importante questionar se essa medida é suficiente para resolver o problema do tempo perdido durante as partidas. Enquanto os goleiros são diretamente impactados pela nova regra, outros fatores que contribuem para a lentidão do jogo continuam sem solução. Jogadores de linha, por exemplo, frequentemente demoram para cobrar faltas, laterais ou escanteios, além de recorrerem a simulações de contusões para ganhar tempo. Essas práticas também deveriam ser alvo de atenção da Ifab, pois são igualmente prejudiciais à fluidez do jogo.
Outro ponto que merece reflexão é o aumento da pressão sobre os goleiros. Eles já são figuras cruciais e, muitas vezes, decisivas em uma partida. Com a nova regra, a responsabilidade de evitar punições e, consequentemente, escanteios perigosos, recai ainda mais sobre eles. Será que essa mudança não poderia vir acompanhada de medidas que equilibrem as responsabilidades entre todas as posições em campo?
Em resumo, a nova regra é um passo importante para tornar o futebol mais ágil e justo, mas não pode ser vista como a solução definitiva para o problema do tempo perdido. A Ifab precisa continuar evoluindo e implementando medidas que combatam todas as formas de “cera”, não apenas as praticadas pelos goleiros. O futebol é um esporte coletivo, e as regras devem refletir essa coletividade, garantindo que todos os envolvidos contribuam para um jogo mais dinâmico e envolvente. Enquanto isso, torcemos para que essa mudança traga mais emoção e menos interrupções aos nossos tão amados 90 minutos de jogo.
Texto: Edmilson Alves
Colunistas
Estádio da Mogiana merece ser tratado à altura de sua história

O Estádio da Mogiana, carinhosamente conhecido como Cerecamp, é mais do que um simples complexo esportivo. É um relicário de memórias, um testemunho silencioso de uma época em que o futebol era pura paixão, e não apenas um negócio. Localizado no nobre Jardim Guanabara, em Campinas, o Cerecamp é um símbolo de uma história que transcende o tempo, mas que, infelizmente, parece condenada ao esquecimento. O recente leilão virtual do dia 13 de fevereiro, que mais uma vez não encontrou interessados, é um triste capítulo dessa narrativa. O abandono do local contrasta com a grandiosidade de seu passado, deixando-nos apenas com as lembranças dos dias gloriosos que ali foram vividos.
O Campo da Mogiana não é apenas um pedaço de terra com arquibancadas e um gramado. É um patrimônio histórico, tombado pelo Condepacc e pelo Condephaat, que carrega em suas estruturas a alma do futebol campineiro. Inaugurado em 1940, o estádio foi palco de dez dérbis entre Ponte Preta e Guarani, dois dos times mais tradicionais do interior paulista, além de sediar o primeiro dérbi noturno da história, em 1948. Foi também candidato a receber jogos da Copa do Mundo de 1950, um feito que poucos estádios do interior podem ostentar. No gramado da Mogiana, pisaram lendas como Leônidas da Silva, Domingos da Guia e Bellini, nomes que ecoam na história do futebol brasileiro.
Mas hoje, o que resta? Arquibancadas interditadas desde 2009, um gramado que já não vê a bola rolar, e um silêncio que dói. O Governo do Estado de São Paulo tentou vender o complexo por R$ 25,7 milhões, mas não houve interessados. É triste pensar que um local tão rico em história e significado possa ser reduzido a um mero negócio imobiliário. O Cerecamp não merece isso. Ele merece ser revitalizado, preservado, e transformado em um espaço que honre sua história e sirva à comunidade.
A venda do Mogiana é um tema que divide opiniões. De um lado, há quem veja a necessidade de modernização e aproveitamento econômico do espaço. De outro, há os que defendem que o estádio deve ser mantido como um patrimônio cultural, um museu a céu aberto que conte a história do futebol e da cidade. Eu me incluo no segundo grupo. O Mogiana não pode ser apenas mais um empreendimento imobiliário. Ele é parte da identidade de Campinas, um símbolo de uma época em que o futebol era feito de paixão, rivalidades saudáveis e momentos inesquecíveis.
É preciso que haja um esforço conjunto entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil para encontrar uma solução que preserve a história do Cerecamp. Talvez ele possa se tornar um centro cultural e esportivo, um local onde novas gerações possam aprender sobre o passado enquanto criam suas próprias memórias. O Mogiana já foi palco de grandes jogos, de histórias emocionantes, de gols que entraram para a história. Ele não pode simplesmente desaparecer, deixando para trás apenas o eco de aplausos que já se foram.
Enquanto o futuro do Cerecamp permanece incerto, resta-nos a esperança de que alguém, ou algum grupo, enxergue além do valor monetário do terreno e veja o valor sentimental, histórico e cultural que ele carrega. O Estádio da Mogiana não é apenas um lugar. É um pedaço da alma do futebol campineiro, e merece ser lembrado, preservado e celebrado. Que as próximas gerações possam, um dia, pisar naquelas arquibancadas e sentir o mesmo frio na barriga que tantos torcedores sentiram ao longo das décadas. O Mogiana não pode acabar assim, em silêncio. Ele merece um final à altura de sua história.
Texto: Edmilson Alves